A gagueira é uma forma que a atividade de fala assume em determinadas pessoas e normalmente se manifesta durante o período de aquisição da linguagem. Ao mesmo tempo em que está desenvolvendo a linguagem e outras capacidades a criança está se apropriando da ideologia e dos valores do seu grupo, vivendo em uma relação carregada de emoção.
Um indivíduo se torna um gago através da vivência de relações de comunicação com os seus outros significativos que, por não aceitarem uma fala com hesitações ou disfluências, impõem a ele a ideologia do bem falar, colocando- o numa situação paradoxal, ou seja, uma interação em que alguém lhe solicita algo que para ser obedecido, tem que ser desobedecido. No caso, lhe solicitam que fale direito e para isso ele se esforça, o que torna a sua fala tensa e difícil.
A fala sendo um automatismo contém elementos que estão alienados da consciência, ou seja, quando falamos, pensamos em “o que falar” e não nos movimentos articulatórios ou no “como falar” . Estes estão alienados da nossa consciência.
Gaguejar é normal ao ser humano, mas em determinadas pessoas se torna patológico devido ao valor que se da á fala totalmente fluente, dentro da visão de mundo dos seus grupos e que elas assumem como sendo a sua própria.
Quando está aprendendo a falar, a criança vive a possibilidade de erros, hesitações e repetições que são componentes da própria fala e acontecem com mais intensidade na infância pelo próprio contexto de desenvolvimento do vocabulário, sintaxe, semântica e também pelas situações de emoção que envolvem o ato de falar.
Se isso não é compreendido e aceito pelas pessoas responsáveis por ela, ela é solicitada à falar direito. Não tendo condições de operacionalizar essa mensagem, pela falta de consciência dos movimentos articulatórios, desenvolve um padrão de fala inadequado, tenso.
Se encontra diante de duas alternativas: “ parar de falar” ou “ se esforçar para falar bem “ . A primeira é inviável, portanto parte para a segunda. Neste processo vai tomando consciência de si como mau falante, acreditando na sua incapacidade articulatória, idéia que se reforça sempre, pois, quanto mais se esforça, mais conselhos ouve sobre o seu modo de falar : “ calma “ , “ fale devagar”.
Com a freqüência destas situações vive momentos de frustração e ansiedade para conseguir ter o desempenho que lhe é cobrado. Com isso, desenvolve a fala num padrão de tensão, que se incorpora e começa a acontecer antes mesmo de começar à falar.
Falar se torna uma situação difícil, para a qual a pessoa tem que se preparar. Antecipando a sua falha, o que significa duvidar do seu potencial para falar, aumenta o seu esforço para vencer a sua dificuldade.
Portanto, o gago tenta solucionar o seu problema partindo de uma premissa falsa, que é a sua irreal incapacidade de falar bem. Esse pano de fundo na sua mente interrompe a sua fala espontânea.
Pensa constantemente que vai gaguejar e portanto, gagueja, porque coloca o elemento tensão em movimentos que são naturalmente soltos.
Sua mente trabalha para não gaguejar e a emoção negativa o leva de encontro ao se esforçar para falar bem, e, então, gaguejar.
Dessa forma, o gago só se verá livre disso quando mudar o seu pensamento; quando sensibilizar-se para mudar a sua falsa premissa, vivenciando a sua possibilidade de soltura.
Mudando o seu ponto de vista a respeito de sua fala, não se envolverá mais com valores antigos e se desvinculará da força.
Quando se perceber como um falante normal, que tem lutado contra uma ideia falsa, pois é capaz de falar bem, então, estará experimentando a sua verdadeira possibilidade de estar no mundo como falante.
Saindo do paradoxo de tentar falar bem fazendo esforço, o gago percebe como ele próprio produz o seu comportamento e começa a viver com uma nova perspectiva que é a de poder falar isento de emoções negativas e viver a sua fala
espontânea que também comporta a gagueira, mas sem tensões.